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sábado, 23 de fevereiro de 2008

Nosso Chão

Este chão que pisamos é ao certo o palco denso de uma tradição que não tem começo. Não se sabe ao certo quando e como toda nossa narrativa principiou. O que sabemos bem é o que vemos hoje: moluscos, bronze de plástico, devassos no púlpito, broncos lecionam, avante com os peculatos, pois não há espaço para trancafiar tantos rapineiros. A atitude de hoje é a exaltação do sonho de ontem e os devaneios com a utopia do amanhã.

Este chão já viu a corrida da anta seguida pelo índio, já foi rasgado pela mata do pau vermelho, já viu o facão dos ratoneiros sem pátria, foi golpeado pela quedas das árvores, foi regado por garapa, sentiu o aroma do café, levou merda de vaca na cara, bebeu leite, chorume e misturas fabris. Mas ele viu mais e verá! Mesmo que não estejamos mais por aqui ele verá o que faremos da Terra e como tramaremos o nosso fim.

Talvez neste tempo eminente ele já não reaja à reposição hormonal e será estéril, sem condição de dar a vida... Então a vida dormirá sobre ele e este chão, morto por nós, e reposto por nossa morte ressuscitará e tornará a produzir o fruto cobiçando para que a natureza não se engane e que novos índios venham novamente correr atrás das púberes antas.

Rafael Paixão

Crônica Registrada

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