Contador

domingo, 18 de setembro de 2011

Concluo:

Há uma rara beleza
naquilo que se escreve
sobre a tristeza!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Quarta corda

Sem palavras... Sem reação!
A minha alma dói
de saudade de algo
que eu não vivi!!!
Seria esse sentimento o desejo?
O que será que sinto
e lembro sem saber do que...
Vontade de ver alguém
que eu não sei quem é;
olhar no seu olho
e pedir explicações:
Onde você estava?
Por que demorou?
Saudade...
Desejo!

Rafael Paixão
Poema Registrado

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Terceira Queda

Me sinto o último dos homens,
não tenho palavra, honradez,
não tenho força de vontade!
Meu remédio é a cachaça que vela o coração...
Sim, ainda bebo!
Mas nem quando eu bebo,
eu te esqueço...
Nem de fogo e cercado de amigos
eu apago da mente tua cor,
teu gosto, teu cheiro,
teu toque, minha tortura.
Carne fraca e coração maltrapilho
que viaja longe,
num instante volta e recomeça a amar!
Coração que acelera
quando penso em você!
Toda noite eu bebo...
Todas! Com todas!
E não consigo esquecer!
Grande droga é você!
Você é meu mal!
Minha destruição!
Meu apocalipse...
Um encosto!
Engodo!
Uma merda!

Rafael Paixão
Poema Registrado

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Tempo versus Ingenuidade

O tempo se encarrega de fazer-nos adultos,
e então no seu decorrer nos fará velhos,
ou, de acordo com seus caprichos,
outra vez crianças...

Tempo esse que transformará lentamente
os nossos templos em ruínas cinzas,
ou, a seu gosto, cobrirá nossa crença
de mais e mais adornos...

O tempo afundará as ilhas...
Ele explodirá montanhas!
O tempo é uma ilusão...
Narcótico da incompreensão!

Rafael Paixão
Poema Registrado

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Juventude

O jovem apela
por caminhos tortuosos
pois não sabe bem
o que é a vida
e não tem noção
de onde quer chegar...

Rafael Paixão
Poema Registrado

A valsear

E assim as coisas não são mais as mesmas...
Inclusive nós vamos modificando
sob os golpes das forjas do tempo!
Mas fechemos os olhos...
Vamos desejar que a música não acabe nunca...

Rafael Paixão
Poema Registrado

De quem é a culpa?

Quem estava certo?
Quem estava errado?
Lá pelas tantas da noite
as ideias e os desentendimentos
vão embora e só sobram as pessoas.
Pessoas não são diferentes
do que sempre foram e sempre serão!
Garotos e garotas
ficam com os corações partidos
e homens e mulheres
sofrem calados pelas escolhas que fizeram...
E todos confusos com suas vidas,
cheios de medo, amor e coragem;
transformam-se furtivamente
na calada da noite...

Rafael Paixão
Poema Registrado

Medo

Percebi que mesmo quando
perdemos o medo de algo,
cria-se em nós um vazio...

Rafael Paixão

Regnum

Não se pode fazer todas as coisas tolas
que aparecem pela frente.
Temos que fazer escolhas
e tentar ser felizes com elas.

Rafael Paixão
Poema Registrado

domingo, 3 de julho de 2011

Espiralada

O crescimento não tem que ser linear,
às vezes é interessante
fazer um pacto consigo mesmo
e prolongar, por meio de uma espiral,
os doces aromas da distante infância.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Um breve pensar sobre a percepção

Sempre que algum garganta intelectualóide vem falar sobre o anonimato das atitudes de uma geração, de cada uma das casas com seus carros populares parados na frente, pão francês e manteiga sobre a mesa e o azul da TV ligada ao anoitecer; penso nas pessoas e nas suas histórias, famílias que se unem na dor e na luta do amor, com momentos que os fazem chorar de rir e outros de perplexidade e tristeza. Há muito além do que se vê e vive aquém aquele que não sente.

Rafael Paixão

domingo, 8 de maio de 2011

Metamorfose cíclica

Sempre há o que dizer e o que esconder sobre si...
Mas para ter uma ideia do que o outro efetivamente é,
ou seja, nesse caso, do que eu realmente sou,
é preciso se arriscar e juntar a sua sombra à minha
e veremos o que vai resultar...
Eu não sei! Depende do dia...
Da insanidade do Sol...
Da tua luz...
Enfim, depende!

Rafael Paixão
Poema Registrado

segunda-feira, 11 de abril de 2011

(Intra)vista

Professor do que aprendo,
aluno do que ensino,
amante esquecido,
solitário confesso e com medo,
construtor de gentes,
arquiteto de ideias,
sonhador de realidades,
poeta de amores de mentirinha,
saudosista por um passado não vivido e
espectador do futuro no qual atuarei.

Rafael Paixão
Poema registrado

Uns par de pensamento...

Hoje estou pensando
na vida e na morte...
A vida é
a maior das incertezas!
Como?
Quanto?
Com quem?
Por onde?
De que maneira?
Já a morte;
a morte é certeza!

Rafael Paixão
Poema registrado

sábado, 2 de abril de 2011

Cidadania

Resposta Pública ao Artigo de Délcio Salomon em:
http://massote.pro.br/2011/01/a-irrisao-da-ufv-e-do-titulo-de-honoris-causa-a-lula
Posto aqui minha resposta, caso continuem não a publicando!

Prezado Professor Doutor ComDor de Cotovelo Délcio... O senhor é tão de direita que deve ser maneta na sua esquerda. Acho que falta coragem em perceber que um iletrado fez mais que o Doutor FHC.
Me parece que o senhor gostaria de ver mais 8 anos negros de PSDB para as universidades federais. Ou a sua não recebeu verbas, prédios, laboratórios ou novos campi no mandato passado?
Seu mesquinhamento acadêmico converge a muitos outros Doutores de direita que conheço, os quais querem passar uma vida criando patentes, em contradição a colegas que querem criar produtos livres, que ajudem o povo sofrido desse país.
Quem critica o título de "Doctor in Honoris Causa" não se desvencilhou dos paradigmas positivistas que dominaram (ou dominam) nossa pueril república e acredita em um cientificismo salvacionista que contradiz muito do que hoje se fala na academia (os que ainda estudam).
Quem valida a Ciência? Se o senhor se interessa por epistemologia, deve saber que hoje temos como tendência responder que é a comunidade acadêmica. Quem conferiu o título ao cidadão Lula de Silva? A academia! Então, prepare artigos para uma revista, e não um blog, e receba o aceite quando Lula começar a receber os títulos das universidades européias, norte-americanas e asiáticas que já concederam a mesma honraria ao nosso ex-presidente.
Gostaria de receber cópia do aceite. O senhor, sozinho, ou cercado de amigos e tucanos com o bico dolorido, NÃO RERPESENTA A ACADEMIA! O que é um bem para esse país!
Não aos 8 anos negros da Educação Superior!
Não ao sucateamento da escola pública paulista!
Não à utilização do título acadêmico de Doutor para mobilizar ao povo em prol de críticas pessoais ou partidárias!
Não sou pertencente a nenhum partido, sou só um brasileiro que tem dois olhos e memória!
"Haja verborragia para condenar".
Espero seu aceite em uma revista recomendada pela Capes ou CNPq, pois quem usa o título de Doutor, deve agir como tal!
Onde está o seu lattes? Eu o procurei para poder me situar! Não achei!
Apenas em discordância,
Saudações cordiais.

sábado, 5 de março de 2011

Nem marchinha!!!

Carnaval! A festa mais tediosa do mundo para mim... Sim! Para mim! E minha opinião tem que ser respeitada, mesmo que você, leitor, não concorde comigo!
A banda Babado Novo diz:
"Paz, carnaval, futebol,
não mata, não engorda e não faz mal.
Carnaval,fultebol, se joga para cima e vira sol."
E para falar a verdade não gosto nem da paz... Prefiro a guerra, ou melhor, o atrito! O atrito é o responsável pelo polimento dos vértices que carregamos.
É claro que detesto futebol! Sempre fui o último a ser escolhido pelos meus coleguinhas de classe... eles tiveram sucesso na vida e eu, o gordinho que ninguém queria no time, continua com raiva do futebol... Talvez por que ele não engorde e eu prefira queijo Brie, uma bela baguete e vinho francês em alguma esquina de Paris! Isso sim engorda o corpo e a alma... rs...
Enfim, eu não engulo carnaval, nem futebol, nem a falsa paz daqueles que estão felizes com o seu "status quo"... Não se deve ser feliz com aquilo que se tem, pelo contrário, deve-se desestabilizar a vida e sempre começar a dar passos novos em direção ao diferente!
Que bom seria se não houvesse massa e não houvesse mais as músicas da moda ou a festa nacional, mas sim a música que cada um gosta e as festas das vilas ou da rua do Zezinho.
Sou inconformado com o meu "status quo" e também com o "status quo" do meu grupo social e da sociedade que me cerca... Registre-se que eu odeio populismo! Embora ame o povo... Deteste a massa!
Encerro o meu desabafo de carvanal, deixando o apelo ao sal! Que ele se junte a massa!

R. Paixão
Crônica Registrada

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu e a vida - Vida e meu eu

A vida é mesmo uma merda! Eu fico aqui, nesse domingo quente... quase insuportável e penso nas possibilidades da mesma, ou melhor, da merda!
Nunca fui um anjo! Eu sempre fui de personalidade forte e um tanto, não, um mundo de teimosia... Sou taurino! E quando enveredo os meus chifres para um lado ninguém segura! Pareço um miura solto no meio de uma sala com as porcelanas da vovó...
Bem, me explico: eu tentei por vezes fazer as pessoas que passaram pela minha vida mais felizes, mais produtivas, mais sociáveis... pelo menos eu achava isso!
Mas o tempo foi passando e eu fui percebendo que como o retorno dessas pessoas (vamos lá... são as minhas ex) foi sempre muuuuuuuuito negativo, o que me faz pensar que eu sou um cara com um rendimento péssimo em relacionamento humano... Sou como a vida! Uma merda!
Tem uma ex para quem eu patrocinei o diploma, tem a ex que só tem emprego por que eu a iniciei no ramo, tem a ex que surtou quando eu não quis terminar a construção da casa dos seus pais, tem a ex para quem eu fazia a compra de mês e colocava gasolina no carro do pai dela, tem a ex que queria me comprar com cargos para que eu suportasse a sua eterna infância e teve até ex que me deu de presente (papel passado) o seu papai para eu criar e a mamãe para dar uns tratos... Enfim, é muita merda junta! Já virou uma fossa essa história!
Ah! Não posso esquecer os casos e acasos que também têm a sua pitada de clorifórmios fecais...
Eu sempre me achei um cara legal! O que deu errado?
De uns tempos para cá eu até comecei a gostar de comédia romântica e passei a tirar lições de vida com filmes como DIÁRIO DE UMA PAIXÃO e UM AMOR PARA RECORDAR... tudo para ser menos T-Rex e mais anjo... Contradizendo o que já disse no segundo parágrafo!
Por outro lado tem iguais que querem de mim o que eu não tenho para dar... Não quero juntar os restos!
E escutar pelos corredores que você não serve? É um porre!
- "Ai, não! Ele é gordo!"
Ou ainda:
- "Eu gosto de gente que se cuida!"
A sociedade vai apodrecendo, invertendo os valores, eu vou me escondendo do novo, me resguardando num passado impossível e de repente percebi que estou incompatível! E mais uma vez o problema é meu... Então eu não deveria ter começado o texto falando merda da vida, que para tantos é tão boa! Até parece chocolate! Me sinto um sepulcro (grande e gordo) caiado!
"Quem tiver ouvidos ouça"!

R. Paixão
Crônica Registrada

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pensamentos, urina e merda

Acordo, levanto e olho o espelho.
Tento lembrar o sonho da madrugada.
Quero saber quem é que me olha
com o mesmo interesse que eu o olho.
É um outro eu... Ficou são de repente,
ou seja, fiquei são... me olho!
Me esvaio em pensamentos, urina e merda!

Me preparo para mais um dia igual aos outros.
Me preparo para mais um dia igual ao dos outros.
Me preparo mais para um dia igual e os outros.
Os pássaros não cantam. Só se estão tristes.
Agora eu como. Lambuzo e como. Bebo... Sorvo...
Meu olhar se prende ao longe.
São ilusões ainda? Caminho para a verdade...

Acabei de mentir!
O que há de verdade naquilo?
É... O meu mundo é indiferente aos meus sonhos.
Sabe aqueles? Eu lembrei...
Vou levar a merda do café para o trabalho.
É. É hora da labuta.
Ai que bom... Vou encarnar mais uma puta.

Rafael Paixão
Poema Registrado

sábado, 15 de janeiro de 2011

Papéis Molhados

Minhas lágrimas destilam o meu sofrer,
elas afogam as minhas angústias,
limpam as nódoas do seu adeus,
elas distorcem os desamores e as decepções.
Minhas lágrimas ainda preenchem
as ranhuras das minhas profundas dores.

Já minhas palavras substituem as lágrimas!
Escrevo os sonhos desfeitos,
escrevo sobre o mundo sem valores,
ponho no papel os seus e meus defeitos
e escrevo dos meus amores em bolores.
Ai, como escrevo densas gotas de tudo!

Rafael Paixão
Poema Registrado

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Insensatez

Silêncio em contradição ao desejo...
Chamam de transgressão nosso gozo
e nossos corpos tremem. Ignoram.

Prazer verdadeiro e sentimento vazio!
Olhares em mim desaprovam.
Pensamentos distantes. São meus!

Os ombros caídos são de uma puta,
enquanto os meus olhos vão sendo salgados
em uma insana busca. Cansados...

Pesaroso o prazer jaz a dormir.
Entra no quarto a solidão.
Ouve meu ode ao nada! Saudade.

Rafael Paixão
Poema Registrado

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O nome da Rosa

Os anos eram a década de 90... Éramos ecléticos em nossos gostos musicais: Legião Urbana, Guns'n'Roses, Rosana, que explodia em sucesso com a canção "Como uma deusa"... Tínhamos ainda Luan e Vanessa com a canção "Quatro semanas de amor" que ficou 26 semanas nas paradas do sucesso!

Foi muito legal descobrir que eu tinha hormônios! Muito embora para a minha família, católica e residente em Aparecida, eu não tinha hormônios, mas sim demônios! Enfim, é entorpecedor. Tudo tem conexão com sexo.

Com 14 anos, qualquer olhar é desejo e um perfume barato cheira a paixão da Champs-Élysées... Trocando em miúdos eu queria transar com todas as mulheres que se aproximavam de mim e não tinham comigo primeiro grau de parentesco. Porém, cheio de platonismo, eu coloria meus instintos abrasivos com os tons pastéis do tal sentimentalismo e emoldurei meus desejos com uma coisa engraçada chamada amor.

Sepultei meus instintos em sepulcros caiados, a mando dos meus superiores, e quem ousava mostrá-los era considerado profano, pornográfico, sujo, imoral, maligno e até "apócrifo"...

Foi assim que transformaram o meu tesão em amor. E eu amava uma garota chamada Rosa. Mas não a amava por qualquer motivo, a amava por que no processo de transformação alquimista tesão-amor criei uma musa fictícia: pele branca como neve, inteligência superior, uma casinha de sapé, cartas enviadas por um beija-flor, tudo regado a ondas do mar que não apagavam nossos nomes na areia... Ela era "Como uma deusa"!!!

Ela me provocava priapismo crônico. Ela era a razão da minha respiração, do meu coração bater e é claro que ele tinha que por o sangue a correr!!! Haviam situações vergonhosas, situações essas que omitirei.

Desesperado fui consultar meu confessor, um padre redentorista que trabalhava no Santuário Nacional, famoso por ser um grande conselheiro. Ele me ouviu de olhos fechados. Enfim, me receitou a disciplina monástica de São Bento: orat et laborat. Reza e trabalha. Cumpri a risca... Do meu jeito... Trabalhei como um baiano e rezei como um boêmio. É claro que de nada adiantou. Rosa continuava a me provocar delírios de orgia. E o pior é que Rosa não estava nem aí pra mim... De verdade!!! Sentia-se confortável na sua condição de musa e adorava me provocar... Sabia que me fazia arder!

Sentava ao meu lado na sala de aula, sempre reclamava do calor só para abrir a blusa... Dois botões... O suficiente para me deixar louco com a sublime visão de seu sutiã meia-taça. Mas quando eu tentava alguma investida ela ficava mais indiferente que as minhas amigas das revistas masculinas! Nem se movia!

E assim foi durante os longos anos em que estudamos juntos... Não sei se pós amor foram quatro ou cinco... Até que ela sumiu. Não nos formamos juntos, trocamos de sala, mas antes disso tive que vê-la desfilando pelos pátios em companhia de outros caras... Quase morri, mas a vida tinha que seguir adiante...

Abandonei o platonismo e me dediquei ao materialismo: fiquei, namorei, escrevi cartas de amor, declamei Vinícius de Moraes debaixo da lua cheia, cantei Legião Urbana (Vento no Litoral - o tema de Rafael e Rosa) para umas e toquei Somewhere in Time (música preferida dela, ao piano) para outras, enfim, encontrei novas paixões e fui as vias de fato com todas, mas continuo sozinho, talvez procurando aquela musa que não existe mais... Sequer existiu um dia!

Porém, Rosa permanecia dentro de mim como uma espécie de trauma infanto-juvenil que não poucas vezes provocou o prazer dos analistas e a excitação das cartomantes. Quantos foram os onde, como, quando, porque...

Rosa transformou-se num mito pessoal contraditório. Ora aparecia como a virgem imaculada, a mulher ideal que me faria feliz para sempre, ora surgia como a pomba gira sacana que preferiu vários filhos da puta às minhas investidas românticas.

Até hoje ela tem uma música. Sonata ao Luar de Ludwig von Beethoven, que durante anos tive a certeza de que ele conhecia as minhas sensações de frustração! Ele havia captado minhas emoções durante suas criações sob água gelada. Mas sei que tudo é loucura, pois só a loucura explica sensatamente as patologias dos nossos sentimentos.

Eu já estava resignado. Sim, resignado, pois há algo sublime na cafonice piegas digna de Falcão: O PRIMEIRO AMOR A GENTE NUNCA ESQUECE.

Pois é, resignado a conviver com as lembranças de Rosa, e também as lembranças de Rosa em Paulas, Marias, Cintias, Anas, Júlias, Gabrielas; quando num dia desses, fazendo compras no centro de Aparecida, tive uma visão que acreditei ser mediúnica: na calçada, envelhecida pelo tempo e pelas vicissitudes estava Rosa. Confesso que a principio achei que eram os efeitos do Sol, mas ela andou e quando cheguei perto olhamos um no outro e vimos que estávamos ali de novo.

Ela continuava com seu "Q" de musa, muito reduzido mas estava ali. E eu continuava na condição de príncipe sem sorte. Realmente sem sorte... Mas a certeza absoluta de que eu estava frente a frente com o meu maior anjo e meu maior demônio só veio quando reparei nos botões de seu camisete: Dois estavam abertos deixando levemente o sutiã meia-taça a mostra. O velho truque sedutor...

Apesar das miúdas rugas ao redor dos olhos pude ver no fundo de sua íris a luz que me fez lembrar da menina capaz de me provocar emoções e ereções pelo simples fato de respirar... Entretanto naquele momento me trazia apenas uma névoa do encantamento que outrora fora.

E veio uma contestação dúbia: meus hormônios foram substituídos por um sentimentalismo de canção sertaneja. E como sempre acontece quando alguma emoção me fere: fiquei catatônico e confuso.

Primeiro confundi o número do telefone de casa com o celular, e depois passei o número da faculdade onde sou professor. Meu Deus! Não sabia se abraçava, apertava as mãos ou dava um beijo no rosto...

Ela sorriu suavemente. Mas não era Rosa quem sorria, naquele momento era apenas a ex-colega de escola cumprindo sua função. Sorrir conforme o ensinado pelos pais, ou seja lá quem for... Parti, deixando para traz uma única certeza: foi melhor assim... Com Rosa minha vida teria sido outra... E ao reencontra-la tive coragem para enxergar que na vida também foram grandes romances aqueles que não aconteceram...

Voltei pra casa, pedi uma pizza e a devorei acompanhado por Bono Vox que cantava WITH OR WITHOUT YOU num DVD cheio de gritos e saudades... Parafraseando Umberto Eco, vocês não saberão o nome da Rosa, mas basta saber que ela influenciou toda a formação da maneira como encaro as quinquilharias do coração.

Rafael Paixão
Crônica Registrada