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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Cancioneiro da boa mãe

Ai Deus! Valei-me!
Portugal se mudou-se.
O Tejo não está mais lá!
Foi levado também.

Não há mais nada trás-dos-montes
e em cima da serra só uma estrela.
Quem pensou nisso tudo?
Alguém requereu a sua herança?

Pobres andorinhas sem praças.
Bem, os pastéis irão pra Belém.
Haverão tantas gemas sem destino!

Se mudou-se... Nudou-se delas!
Ficou roto aos olhos dos outros...
Donde estás? Qual é teu lugar?

Agora, esfacelado, tem um pedaço dado
pra cada canto do mundo. Ai Deus!
Ó Reino Sacro! Império Tropical!
Tu foste global! Transcultural...

Não terão mais canções d'amor,
pois o acordeão rasgou o fole.
Triste será o fardo do teu fado...
Será absorto por tambores!

Ai Deus! Valei-me! Donde estás?
Cadê os bocados continentais?
Até o Açores partiu!

E da Madeira, ó paraíso,
não me sobrou nem o vinho...
Atirarei os calix ao mar.

Douro tu banharás a África?
Ai Minho... Não chores!
O Guadiana desertou e
voltou para a Espanha.

Ai Ria de Aveiro que dor a minha!
Não irei mais comer nem
uma vez, com os pés no Vouga
o teu legítimo tucunaré.

Portugal se mudou-se!
Na Aldeia espalhou-se
e se ditribuiu. Que lindo
ó puta que nos pariu!

Rafael Paixão
Poema Registrado

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