Contador

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meu fim, meu recomeço...

Continua a ser
extremamente curiosa
a forma como o meu mundo
se inverteu e continuei
exatamente no mesmo lugar.

Já não sou eu e,
no entanto,
não poderia
ser mais teu
esse teu eu.

Não deixa de ser esquisita
a rotina de uma época
tornar-se
numa memória distante
da qual me lembro tenuamente.

Foi a minha vida,
fui eu,
um eu bem definido
e delimitado que depois morreu
e que foi enterrado num canto da praia.

Apareci de negro cru
no meu funeral
e fui o único que
não gastou
lágrimas prateadas.

Fui o único que soube
exatamente
o que estava para acontecer
e qual a drástica consequência
de um gesto tão inocente e tão simples.

Por isso,
fui o único no meu funeral
cujo rosto foi firme e duro,
insensível como uma pedra.
Não ia sentir falta do meu eu.

Continua a ser estranho.
Porque andei em um círculo
mas caminhei sempre
numa linha reta.
Fim e início. Início e fim.

Tão simples ,
tão conciso,
tão evidente.
E, no entanto, me perdi
nas voltas que dei.

Sou eu, continuo a ser eu.
Mas quebrei a rotina de um eu
que agora já nem sabe quem era.
Eu, num mundo paralelo destruído.
Não sinto qualquer saudade do meu morto eu.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Nenhum comentário: