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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Adeus

Afogar a mágoa em qualquer coisa,
ainda que seja corrosiva,
soa melhor do que viver
a vida que ainda existe em mim.

Deixarei de viver
a existência que é a minha.
Lamento.
Adeus!

Se não estarei aqui é porque,
lá no fundo, nunca quis ficar...
eu nunca quis ficar.
Adeus!

É porque, lá no fundo, não existo.
Já não existo.
Os mortos algum dia
acabam por ser esquecidos.

Nunca quis eu,
verdadeiramente,
ficar por aqui.
Lamento.

Por mim,
porque todos os mortos
serão esquecidos, um dia,
lamento!

E sei que morri.
Haverá um dia em que
já não saberei quem sou.
Não saberão quem fui!

Haverá um dia em que
me esgotarei em pensamentos
inúteis e vazios.
Adeus!

Precedentes de atos que
nunca executei.
Em verdade, morri.
Lamento. Adeus!

Eu fui ferido
na única coisa intocável
na existência humana:
o meu conceito de futuro.

Lamento...
Já estou morto!
Eis-me frio.
Adeus!

Rafael Paixão
Poema Registrado

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