Este blog contém uma antologia do que escrevo. Parte do que está escrito aqui é verdade, a outra parte não! Nota 1: As partes não são iguais, então cuidado com o que lê! Nota 2: O nome do blog é uma referência a Vinícius... Grande poeta!
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Austeridade
com elas sempre esbarroa e nunca lamenta a pugna.
A austeridade lhe serve de abrigo até na tristeza,
pois mesmo com violência ele há de vencer-se.
Rafael Paixão
Poema Registrado
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Colóquio íntimo
As luzes e as trevas,
com demasiado ânimo
entre si discutiam e disputavam
como proceder a vida.
Uma fé e a outra descrença.
Uma amor e a outra mágoa.
Uma responsabilidade e a outra corrupção.
Uma verde e a outra negra.
Graça e pecado.
Esperança e ilusão.
Compromisso e fome.
Melhorar e destruir.
Sem consenso continuavam
num desgaste titânico.
Uma puxa e outra empurra.
Outra junta e uma espalha.
Divino e animalesco.
Sorriso e lágrimas.
Humano e esperto.
Renovador e destruidor.
Que bom seria se ambas,
com o equilíbrio em mãos,
deixassem a cada homem
aquilo que Deus nos deu:
liberdade de escolha!
Sejamos elípticos... Tenhamos dois focos!
Rafael Paixão
Poema registrado
Entender o infinitivo
O que farei amanhã de manhã?
Depois de contar, chorar, mentir, pasmar,
iludir, agarrar, usar, sentir,
olhar, calar, andar sem despedir.
Rafael Paixão
Poema registrado
Amor aos XXI
Vou desfragmentar você!
Pois ocupa em mim porções
de maneira desordenada.
Onde te coloquei?
Em meu tato há toques
que ainda trazem ar em mim.
Em minha mão eu sinto a sua
e lhe guio. Lhe formo.
Te fiz pra mim. Moldei.
Você até tinha formas
mas as suas janelas
não tinham luz, mesmo
que suas cálidas pálpebras
se abrissem para ver.
Minha língua tem seu gosto
que é doce e feminino.
Enganadas minhas coxas
lhe tateiam, ou melhor, se tateiam,
está ocupada! Você tem outras coxas.
Aqui nós erramos. Aqui o amor supurou.
Eis que cedo aprendi: meu.
Ainda mais cedo, que espanto, você decidiu
e sem dominar os gêneros possessivos
largou a sua terra e passado.
Quanto ao teu rosto
dele eu não me lembro.
Se perdeu por prioridade!
Ele nunca me encantou.
Vou juntar você em mim
e lhe colocar toda em um monte.
Mas ainda hei de guardar aqui
como foi triste nosso caminhar.
Rafael Paixão
Poema registrado
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Pedagogia Infantil
bastante força de vontade
para disciplinar os filhos,
chama a sua fraqueza
de "pedagogia infantil".
Rafael Paixão
Poema registrado
Saudade
Mas passa tão fugida!
Bendita seja a saudade
que dura pra toda vida!
Rafael Paixão
Poema registrado
Uma intenção do canto
Não que esteja com anseios de Ícaro.
A verdade é que o canto faz estrada
e ela não pode estar presa ao chão.
Para quem canta voar é efeito,
e surpreendente é o resultado da causa.
Seja ele de fazer agrado ao ouvido
ou somente para embebedar o seu artífice.
Quem canta mostra na melodia
que a voz tem humor e sentimento.
E o seqüênciar de tons e timbres
diz a dor: tu não podes voar!
Rafael Paixão
Poema registrado
Minha Poesia
Ela nada tem com as rimas!
Nunca me percebo envolvido
ou atrapalhado por métrica ou fonética.
Quero com minha poesia falar meu canto,
fazer outrem entender como que vejo,
sentir junto com os meus sabores,
inalar a cada manhã o perfume daquela flor.
Anseio, quando escrevo, que me entendam,
ou ainda, que indaguem: o que?
Nada quero com as regras! Basta!
Liberdade para escrever a tinta.
Coragem para gastar folhas pardas.
Tinta de experiências minhas
e pardas porque o tempo esqueceu.
Como um outro eu imaginaria
que com a sucessão das imposições
eu poderia tantas vezes afirmar minha?
Rafael Paixão
Poema registrado
Solidão
A solidão nada mais é que um ser estar sitiado.
Ao contrário do que sempre pensei,
o solitário é aquele que nunca está só.
No coração ele colocou a saudade,
às mãos impõe a companhia fria da sudorese,
no pulmão há aquele inspirar farfalhado
e ainda com seus passos ele aprisionou a tristeza.
Como uma cidadela observada pelos invasores
o solitário despreza o que vem de fora dos portões!
Nada de amigos! Eles são somente escarne...
Desdém os olhares de desejo, pois nele há coragem!
Como nos conta o tempo, desde muito cedo,
os sitiados morrem de inanição e apatia.
Com os solitários nunca será diferente...
Rafael Paixão
Poema registrado
Daltônico
cai do céu e rega a terra no nascer luminoso de cogumelos.
Ilumina as tardes de espectadores sonhadores,
que na mistura de quentes e frias cores, divagam.
O vermelho que é vida e se faz morte quando escapa.
A mistura entre mãe e filho se dá "en rouge"!
A vida se faz em rubidez, é nele que a mesma flui,
e talvez seu cheiro ferruginoso embale a canção da morte
Ele não é a minha cor preferida, mas pense:
O que seria do fogo? Ele arderia em verde?
E no cume do monte veríamos árvores consumidas em si!
O que maravilha seria senão azul e vermelho?
Que a beleza do príncipe negro me extasie
e que assim eu encontre novamente minha visão.
Rafael Paixão
Poema registrado
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Agora eu olho para a história
espada sem fio e cheia de dentes.
O cavalo é manco, ao certo,
e o soldado, coitado, cego!
No cocho: mandacaru.
No coxo: farrapo velho.
No cinto: aperto.
No sinto: esquecimento.
Quem vence pode sempre
comemorar, contar, torturar,
chorar, rir, prender, maltratar,
até matar. Mas nunca olhar!
O olhar trás a verdade,
e junto com ela vem a semente
da revolta dos vitoriosos que
perderam a duras penas
o direito à beleza.
É tudo questão de foco senhor!
Ganhamos territórios!
Mas os que olham vêem lares em chamas.
Causamos muitas baixas!
Mas os que olham vêem as vidas tolhidas.
O bom historiador deve ser cego,
pois olhar faz mal ao rei!
Melhor voltar a trêmula bandeira
e a espada desembainhada.
Pois então grite majestade!
Ordeno que me tragam um sabugo!
Rafael Paixão
Poema registrado
Nunca os vi!
Um coreto esquecido de onde a música não vem mais.
Havia ali os trilhos do velho bonde.
Nunca os vi!
Havia homens que escondiam-se na escuridão,
e eu não sei se era por medo da vida.
Mas num claro queimar de coisas
eles guardavam lembranças de fé.
Nunca os vi!
Não vi os padres de batina preta.
Não vi as meninas de tranças e de chita.
Não vi os casais de braços dados.
Nunca os vi,
mas tenho saudade daquilo que não vivi
e sinto falta de tudo que não senti,
pois eu nunca os vi!
Rafael Paixão
Poema registrado
Gigante que chora
Será que conseguiste de longe o avistar?
Eu acredito que sim, embora não me digas.
Mas, dizem por aí que um dia ele banhou os teus pés!
Em resposta e este fino trato, formaste em si
um baú para guardar o que um dia tiveste.
Enquanto isso, permeiam em tuas entranhas as conchas,
que por um instante te lembra a voz do mar.
Foi esta a causa de serdes aquela que chora?
Por isso as águas correm pela tua fronte?
Ó grande emaranhado de lágrimas...
Te ergueste e assim te agigantaste,
pairando assim teus olhos saudosos sobre ele.
Pois tu, Mantiqueira, ainda choras pelo mar...
Rafael Paixão
Poema registrado
Ilusória existência
olhou para o amante que aqui jazia...
Olhei mais uma vez e diante de sua infinitude
imaginei o quão mirrado eu aparentava a ela.
Então, devido a distância, enchi o peito de força e disse:
por que esta solidão nos maltrata?
E ela, em resposta, se encheu de luz e explodiu!
A solidão era somente minha. Não era dela.
Na verdade, ela já não existia, pois eis que
aquilo que vira, e para quem eu falara,
era só um restício do que outrora fora.
Hoje, ontem e antes, muito antes, não há nada lá.
Rafael Paixão
Poema registrado
Sem título
que tem bico e uma asa só.
Depois que ela enche, ou a enchem
se dá a derramar.
Um pouco pra xícara. Outro pro copo.
Um tanto de chá e gotas de limão,
que até agora não fazia parte da história,
posto que é fruta! Cítrica!
Mas que atentado a cultura inglesa,
se bem me recordo do não me ensinaram!
Chá se põe em jarra? Se toma em copo?
... ao menos que se sirva com limão.
Ah! Deixa disso! Que complexo!
Não falava eu da jarra?
Pois é. Mas agora já foi. Passou.
Só se for pra inglês ler!
Rafael Paixão
Poema registrado
Não havia...
Pra mim o amor era bom,
só era capaz de fazer o bem.
Daquele tipo que afaga a cabeça!
Pois, ainda não havia em mim esta veia.
Não corria em mim este sangue.
Sangue velho que me envenena!
Ele é minha embriagada cicuta atemporal,
que esqueceu de mandar morrer ou matar.
Não havia em mim este sangue.
Cada vez que falava de amor,
pensava eu, infante eu, nas coisas boas:
O desejo, o cacho solto, a pele...
Mas agora em mim ele mata,
cada vez que o coração dispara
e espalha este sangue que em mim não havia.
Rafael Paixão
Poema registrado