Contador

domingo, 30 de março de 2008

Partida sem despedida

Com o som do motor do avião
e o coração oco pela partida,
o cachecol dança e serpenteia
fazendo alusão a morte.

Entrar naquela nave de aço
significa deixar meu mundo
e esquecer que um dia houve
neste chão dor e ódio.

A música que embala a decisão
me impulsiona a deixar tudo,
pois me trás a memória o sonho
das improváveis chances de vida.

Eis que o ronco aumenta em mim
e a paisagem passa corrida, voada!
Ao longe, embaixo, sem cores
eu vejo a minha casinha com chita.

Mas de repente, como um cogumelo
de fogo que se faz ao longe, ele pára.
O sangue pára e as artérias são veias!
Meu coração ficou em minha terra...

Rafael Paixão
Poema Registrado

sábado, 29 de março de 2008

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

FERNANDO PESSOA

segunda-feira, 24 de março de 2008

Adivinhões

- Hã, hãm...
- O que será do meu futuro?
...
...
...
...
...
...
...
O Centro de Adivinhação Dia e Noite informa:
- "Linhas ocupadas".
- "Pergunte outro dia"!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Amor de amor

Amor descartado!
Amor que mente...
Amor com tempo e
amor de incertezas.

Amor sem amor...
Amor desalmado,
amor com final.
Novo amor afinal!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Não temos como...

Quero-te por perto, mesmo que seja incerto
esperar-te com o copo cheio na mão.
Não chegas e então não me deleito,
mas me delicio com muito gelo.

Perdidos estamos em meio ao tempo
e não temos como marcar a espera.

Então te abraçarei e deixarei o copo
para que eu tenha horas em ti!
Não posso resistir a tua companhia
nem a lua branca no céu...

Perdidos estamos em meio ao tempo
e não temos como marcar a aurora.

No beijo perfeito fazemo-nos cegos
diante da realização da promessa
e sem tirar minha boca da tua
esperamos a cabeça girar.

Perdidos estamos em meio ao tempo
e não temos como marcar a respiração.

E se eu já estiver nu, que esteja em lençóis
e possa irradiar em ti tudo de mim
e então, se for o momento, faremos
o crime absolto de culpa incerta.

Perdidos estamos em meio ao tempo
e não temos como marcar a falácia,
não temos como marcar a cicatriz,
não temos como marcar a esperança,
não temos como marcar a bebida no copo,
não temos como marcar a vontade...

Rafael Paixão
Poema Registrado

sexta-feira, 21 de março de 2008

Minha mãe

Queria falar nesse poema
das coisas que sinto e senti,
mas na verdade deparei com o impossível,
pois o que queria descrever
está impresso no peito
e não tem tradução.

Como falar do seu amor
feito com doação?
E me perderia ao lembrar
de tudo que rimos e choramos juntos,
rindo dos sofrimentos
e chorando com as alegrias.

Não há palavras ou imagens!
Não posso agradecer a vida
e o empenho em me formar o caráter,
sem esquecer do ombro...
Ombro que foi meu
e de tantos outros.

Aqui escreveria um livro!
Só para contar ao mundo,
para que saibam,
as histórias dos outros, todos.
Mãe, mãezinha, seus cabelos já refletem luz
externando aquilo que seu coração sempre fez.

É doce compartilhar o fel contigo
e com que alegria partilhamos tristezas.
Nunca poderei, em canção ou poema,
expressar verdadeiramente o que penso
ao saber que por mais distante que estejamos
não há como separar nosso único coração.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Outono-inverno

Meus sentimentos fazem em mim um outono!
Eles desagregam do meu ser valores podres
e estes caem em meu entorno
para que possam fortalecer a vida.

Eles não fortalecem somente a minha vida,
mas as vidas de todos que estão em meu alcance.
Livre dos restícios do que passou e fortalecido por eles
passarei confiante por este e outros invernos.

Rafael Paixão
Poema Registrado

O que poderia ter sido de nós?

Sementes lançadas no concreto...
Mas é certo que o vento as fez brotar!
Uma safra que nunca foi engarrafada
e nem sabemos onde foram os odres.

Não havia intenção que a videira germinasse?
Qual foi o motivo de macerarmos as uvas?
Mas depois de tudo, uma mistura de acasos,
não finalizamos nossa criação.

Minha memória não me permite mais
saber em qual cave está aquele vinho
das sementes acidentais, da maceração intencional,
do envelhecimento desejado e do fim tolhido.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Quase como "batatinha quando nasce"

Quando chega o Sábado
e se intersecciona com a noite,
percebo como pode ser, vez em quando,
vazia a vida solitária.

Porém nos outros dias,
também sinto falta
de uma desconhecida (ou conhecida)
que deverá ocupar um espaço em minha vida.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Micareta

Tudo fugiu do seu lugar!
Notei que eu estou fora do meu lugar...
não sou dos que dizem o que deve ser dito,
mas sou dos que dizem.

Eu não fui capaz de transformar a vida
e fazê-la uma vidinha dentro duma caixinha.

Mas o que está sem lugar, sem espaço
ou sem vida em minha vida, está lá
e vou fazer tudo virar confete.
Vamos misturar os meus confetes e sua serpentina!

Façamos uma micareta com palavras
e idéias que não tem lugar em nós.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Nada definitivo

E pra concluir,
concluo que
uma conclusão
nunca é conclusiva.
Jamais definitiva!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Ambigüos como um umbiguo

O professor de Matemática,
dos desafios lógicos que criou,
sabe que os mais difíceis e apaixonantes
foram poemas que falam de vidas.

Rafael Paixão
Poema registrado

Os grilhões e o cautério

O pranto não apaga o fogo da paixão...
Ele excita o fole e torna rubro o cautério!
Mas ainda esperas por mim,
pois fiquei perto e tão longe de ti.

Eu sei que, haja o que houver,
esperarás por mim... Eis que viajei!
Fui para outro coração ali do lado
e você percebe minha ausência.

Essa paixão que te maltrata
me faz prisioneiro de suas lágrimas,
e por mais que queiras evitar,
um dia eu partirei do seu lado!

Meu pensamento já não está com você.
Minhas mãos nunca foram suas
e aqueles beijos foram só de cinema.
Liberta-me do teu pranto!

A paixão é um torturador lento,
que aprimora os seus meios implícitos
com o roubar do tempo que tens.
Dá-me a chave dos grilhões!

Tu manténs meu pulso preso pela prata,
e o ferro do cautério lhe fere o peito.
Vamos caminhar ao vento!
Um irá a favor e o outro contra.

Liberdade tardia e vindoura!
Cansei-me de ti, do teu respirar,
do teu olhar comprido e mendicante. Adeus!
Não ficaremos amigos. Nunca fomos!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Um poema para uma canção

A dor nada mais é que saudade!
Suas idas e vindas ferem-me...
Onde estás agora?
O que farei com a dor que me consome?

Sei que um dia não retornarás,
pois estarás para sempre com outro alguém.
E o que será da minha saudade?

A cada compasso de todas as canções
lhe faço um verso que fala de nós.
Mas ainda existimos?

São tantas perguntas...
Quem sou eu? Quem é você?
Onde vivemos felizes um dia?
Qual é a música destas linhas?

Rafael Paixão
Poema Registrado

Rios que não secam

O mar pode parecer revolto para você
e o céu pode parecer triste.
É o ritmo frenético da vida moderna
que faz uma censura silenciosa ao seu desejo.

Seus olhos estão cheios de lágrimas
que lavam a poeira em seu rosto
e irão banhar os seus pés.
Elas estão fora de si e fluem com os seus medos.

Rafael Paixão

Poema Registrado

terça-feira, 18 de março de 2008

Grüßen Vater

Nunca caminhamos juntos!
Jamais trocamos palavras
ou sequer olhares.
Tudo era pelo fincão.

Eu acompanhava o espetáculo...
Ouvia tudo e falava só,
ou aquilo que era pra ser dito.
Por fim, houve um fim.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Lembranças dos poetas da infância

Caminheiro somo,
pelo Vale andemo,
dize que rezemo
e tamém bebemo.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Frente a morte

A paixão não vence a morte...
Resta a saudade e a lembrança.
Talvez o remorso!
Só o amor ultrapassa o espaço,
ignora o tempo
e faz de cada ato um gesto insano
de quem deseja um
encontro com o incerto.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Uma causa

É só o desejo de ser transparente.
Embora com muitas luzes,
que me dão novos nuances,
mas mantém a transparência!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Lógica Fuzzy

Se "o maior cego é aquele que não quer ver",
então o maior covarde é aquele que não escreve,
pois tem medo de si mesmo
e dos cortes que o seu pensamento pode lhe fazer.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Pra bom entendedor, imagem é poesia...

Sem palavras...
somente pele e arte!
Cada qual expressando
seu infinito interior
por meio das cores
que tem e que lhe deram.
A exemplo do que é denso,
cada qual mostra algo de si,
sem que a sua essência
se dissipe e encerre.


Rafael Paixão
Poema Registrado

Quiromancia

Minhas mãos cheiram graxa,
tenho você apertada nelas e
lembro do seu sorriso
que me parecia infantil.

Na verdade toda aquela escuridão
reporta a torta intenção que tens
em me deixar naquele dia.
Não entendia sua admiração pela graxa.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Homo Demens

As cítaras se foram
e vieram as guitarras.
Uns sentiram falta das primeiras,
mas muitos já sentem das segundas.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Sem cores... Sem o preto e o branco!

Um filme velado revela
muito mais que a foto
que um dia se perdeu.
Revela que não houve
a justa preocupação
com cada momento!
Vidas veladas!

Rafael Paixão
Poema Registrado

A pata nada e o boi baba...

Só vejo na TV gueixas de ceroula,
palhaços de terno e gravata,
homens de batom e sombras
e mães que deixam os filhos.

Acabou o sonho...
Não há sequer utopia!
Será que vencemos?
A vida...
O gozo...
As luzes da ribalta!
E até o Bozo.

Não entenderá aquele que um dia não quis.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Admirável mundo novo

A emoção arrepia a barba
e em perturbações se alastra!
Velhos abrem os jornais e buscam
as oportunidades que se foram.

Homens de negócios em seus ócios.
Artistas que folheiam revistas.
Projetos tortos.
Vidas mortas.
O que fizeram?
Nada!
Passou...

Cadê o sentido pra tudo isso?
Quem desejou estes controles?
Não há crianças...
Nem fumaças!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Com o passar dos anos

Me emocionei ao flertar aquele olhar,
que era cercado por erosões
feitas pelas lágrimas e o tempo.
Benditas testemunhas da vida!

Rafael Paixão
Poema Registrado

segunda-feira, 17 de março de 2008

Outra tempestade...

Podemos brincar com o tempo...
Pois o amor não envelhece!
Há uma lanterna em minha mão
e um sorriso em seu rosto.

Podemos cavalgar em pelo!
E depois iremos às bolhas
que estão no fundo do rio.

Quem nos secará?
O frio do cume nos arrepiará!
Sem medo de nós!

Não devemos temer o céu,
pois enfim, só restará o amor.
Cantaremos por fim ao vinho
com o som do oboé...

Restarão estrelas no céu
até que o Sol as apague.
Restaremos eu e você
enquanto houver tempo!

O tempo é a chave!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Com o vento

Isso é a vida real? Ou é só fantasia?
Quero escapar da realidade!
Sem compaixão... possuo altos e baixos
E eles são do jeito que o vento soprar...

Se eu não voltar outra vez amanhã,
como se nada realmente importasse,
porque é tarde demais, chegou minha hora.

Vou encarar a verdade...
do jeito que o vento sopra!
Um palhaço... Não! Um folião!

Poupe minha vida disto...
Deixe-me ir!
Nada realmente importa.
Qualquer um pode ver.

E de qualquer forma o vento sopra...

Rafael Paixão
Poema Registrado

Um mundo à minha frente

Sem palavras frente ao mundo...
Não sei o que dizer sobre tudo o que vejo!
Como posso expressar o sentido?
Eis que o mundo fica pequeno.

Rafael Paixão
Poema Registrado

quarta-feira, 12 de março de 2008

Cegos visionários

Os céticos utópicos
não percebem diferença
entre o mundo que vivemos
e aquele que sonhamos.
Aponte.
Há pontes?

Rafael Paixão
Poema registrado

domingo, 2 de março de 2008

A roupa nova do rei

Eis o que eu lhes anuncio: É uma batalha de palavras
em meio aos cartazes que vendem e emanam destruição.
E no fim é só no seu entorno que entenderam este pormenor.
Ouça! Há lugar pra você no sistema...
Quero dizer que eles vão matar você! Entendeu o que quero dizer?
Quero dizer... Era só uma diferença de opiniões, mas francamente...
Não há nada que se possa fazer, mas tem muito disso por aí!
E quem vai negar que é este o motivo de toda briga?
Saia do caminho!
Tenho coisas em mente...
Vai querer saber o preço?
O menino que falou da roupa do rei,
que não existia, visto que o rei está nu,
morreu.

Rafael Paixão
Poema registrado

Fim do tempo

Esvaindo-se o tempo! Os momentos tornam o dia chato...
Espera que alguém ou alguma coisa lhe mostre o caminho
e cansado de deitar-se à luz do sol, fica em casa e vê a chuva
Tudo está parado e sem vida... Onde está seu coração?

Juventude e a longevidade, e hoje há tempo para pensar!
E eis que um dia você percebe que dez anos ficaram pra trás
e ninguém lhe disse quando correr. Você perdeu o tiro de largada!

Corre e corre para ver o sol, mas ele está sempre se pondo
e continuará correndo ao redor de nós para que possa se levantar
de novo atrás de você, sendo ele o mesmo de ontem e
encontrando a cada dia um você ficando mais e mais velho.

Cada ano está ficando mais curto, nunca parece haver tempo!
Os planos deram em nada ou em todo tipo de coisa...
Não permaneça apático ao carrocel de sucessões rítmicas,
nem se consuma em um desespero quieto. Há mais o que dizer!

Rafael Paixão
Poema registrado

sábado, 1 de março de 2008

Ao usuário

Não tenha medo de importar-se!
Mesmo que você parta, não me deixe
pois muito de você vive aqui em mim,
haverá sorrisos e cairão lágrimas.
É tudo o que sua vida sempre será...
Vida solta por aí ou presa aqui comigo.

Cave uma cova, esqueça-se da partida,
e afinal, quando o trabalho estiver pronto,
não se acomode, é hora de cavar mais uma!
Deixa se levar pela maré, que vem e vai;
e equilibrado na maior das ondas,
corre em direção a uma cova precoce.

Rafael Paixão
Poema registrado

Teofania

É pela humanidade que devemos
compreender a divindade,
pois somos imagem e semelhança da mesma;
assim, sendo ela invisível, somos,
por seu desejo, sua expressão.

O entendimento do Divino
se dará depois que
construirmos a humanidade!
Que possamos assimilar
que somos teofania.

Rafael Paixão
Poema registrado