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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Aos de fora

Silêncio!
Não direi nada...
As palavras maltratam.
Eles não têm desconfiômetro?

A eles somente o meu silêncio!
Não gastarei os versos...
Eu ficarei calado.
Já foram?

Rafael Paixão
Poema Registrado

Da concha ao vento!

Já vivi em uma concha
e me escondi do mundo.
Mas que agora ele saiba
o que há dentro de mim!

Rafael Paixão
Poema registrado

Vida que os tens

Balada,
pegar as minas,
dar um rolê,
fumar um,
beber vinte e dois,
fazer a três,
vomitar de quatro,
sair com cinco,
dormir às seis,
pintar o sete,
e acabou a conta!
Esqueceu,
babou,
brochou e
morreu!
Pobre é o
homo futilis!

Rafael Paixão
Poema registrado

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Limeriques e piquescondes

Um poeta quando faz um limerique
convida palavras para um piquenique.
Já meu eu, pequeno maltrapilho, malemá
as convida pra pão seco e um cado de chá.

Rafael Paixão
Poema Registrado

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mais um pacotinho...

Rapidinhos!

Toda porta
esconde algo, por mais óbvio que isso pareça. Nunca se sabe!

Se tudo
é questão de tempo, então quebremos os relógios e encontremos todas as respostas.

Com a
morte e o passar dos anos, até o mais triste dos homens acaba sorrindo.

A existência
nos surpreende por sua composição inebriante de cores.

O coração do homem se corrompe com seus desejos.

Voar não requer asas, mas sim conhecimento!

Se a luz dos olhos se apagou, então o fogo do desejo extinguiu.

Todo desconforto humano é criado pela sede contínua que temos por mais, porém é certo que não se vive sem água. Refrescante dilema...

A família um dia foi célula mater da sociedade, mas em uma mutação tornou-se causa mortis! Ave Caesar!

As vezes o tuiuiu vai tomá água! Em todas as outras... Pobre daquele que é tuiuiu.

Rafael Paixão
Registrados

Drops de canela e gengibre

Estes são uns rapidinhos

A estética
da vida consiste em enxergar além do próprio umbigo.

Não quero ser sempre um papel higiênico, pois além de lágrimas ele enxuga outras coisas.

Um sorriso amarelo indica mais que falta de escovação!

A revolta é uma das faces da insatisfação, uma outra é a mansidão.

A clareza do que dizes é resultado da reta intenção que tens em ensinar.

Gostaria de construir a união entre os que me cercam para que pudéssemos lançar bases para a humanidade, pois ela ainda não existe.

O simples ato de respirar mostra que tudo por aqui é ação e reação.

O meu peito aperta quando há muito coração ou quando ele me falta.

Dizem que a beleza não põe a mesa, e é verdade! Porém nos fúteis dias de hoje, solucionaram a questão com toda espécie de delivery.

O ato laborativo contemporâneo perde o sentido e gera mal-estar quando o ser humano permite que o invistam com a antiga condição taylorista. O homem foi feito para criar!

Rafael Paixão
Registrados

Re-volver

Tenho um desejo linfático
de uma revolução de Homero!
Daquela com reis e bobos.

De um quero ver a glória,
o sorriso da multidão.
Do outro quero ver o equilíbrio,
mesmo que algo caia.

Deveria ter heróis e vilões
que se confundiriam na batalha.
Lança e susto. Dar, dor e doar.

Uma revolução que muda a vida!
A uns ela fará morte,
para outros haverá uma vitrine.
Pode ser que alguns retornarão.

Rafael Paixão
Poema Registrado

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Tic tempo tac

O ensinamento que os anos deixam

é a urgência de estar presente.

Todo o resto é conseqüência

ou uma mera ilusão desgastada.


Não que esteja a filosofar

mas na verdade tudo muda.

Em vários momentos deste ano

as coisas que me cercam mudaram.


Estar presente plenamente

é única justificativa para trabalhar loucamente,

juntar dinheiro, fazer um projeto,

discutir uma idéia, brigar com alguém.


Recociliar-se: consigo e com outros!

Todas estas tarefas desgastantes que implicam

em estar vivo e relacionando-se com o mundo.

O futuro, o legado e o amor são conseqüências.


Minha busca é estar presente.

Eu, que passava a vida olhando pra frente

e correndo atrás, noites em claro pensando

no que pode dar errado.


Discussões entre eu e eu mesmo

sobre o que é certo, o que eu deveria ter feito.

Muito tempo esperando o tempo certo,

muito tempo deixando para depois.


Quando for o tempo.

Não é simples.

Agora reflito olhando o passado,

que é o que sei fazer.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Patroccinare

Coisa louca essa de pedir patrocínio à escola!

Por fim é um horror...

Veja bem, professores que trabalham por um prato feito?

Paguem direito e deixe que eles escolham onde comer!


Rafael Paixão

Poema Registrado

Tempestade Cerebral

Um pouco de tudo em minha mente!

E por isto mesmo, talvez, pouco a desenvolver.

Mas, enfim.

Estou sentado olhando um besouro na parede.

Qual a diferença entre eu e o besouro?

A diferença primordial, além dos cascos e as patas a mais,

é que ele não se indaga sobre o sentido da vida

e por que precisa continuar vivendo.

Ele simplesmente sobrevive!

O que eu fiz do meu hoje?

Bem, continuei sem entender o sentido da minha vida,

mas saquei qual é a do besouro.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Neve e Dor

Uma voz se une aos pássaros

e triste percebe a chegada da neve

que leva uns para longe

e a outros prende em ferros.


Para os pequeninos há fome

e aos outros resta uma dor.

Levanta vôo e assim some

deixando para trás o sofredor.


Fica preso em teu mundo

e lembra do canto alegre!

Escuta seu entorno mudo

sem que a solidão o integre


Rafael Paixão

Poema Registrado

Pontes

Vamos construir pontes!

Que estas liguem os homens

e construam as gentes.

Lancemos, pois os germens.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Sem luzes

O choro embebe a palavra da alma

de quem um dia perdeu um amor.

E aquela essência que um dia foi alva

se torna a negra morada do sofredor.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Para sempre

Era um tempo longínquo e

havia amor entre os jovens

e a alegria nas vielas e praças

dentro daquelas muralhas.


Flores nas janelas!

Serenatas nas madrugadas!

Canções nas tavernas e

flautas faziam melodias novas.


Lá também havia dor

que era causada pelo desprezo

de quem não correspondia o amor.


E nessa terra distante

separada de nós pelos séculos

restava ao amante a espada e a honra.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Barulho do vento

Doçura em minha alma!

como é grande a alegria

do homem que ama

e é amado, mesmo que em segredo!


Na verdade tudo converge

e leva pessoas e coisas

a conspirarem por ele.

Eu sinto a harmonia!


Sei quando pensas em mim,

quando passa as noites lembrando...

É tudo questão de tempo!


Que o vento soprado do mar

dissipe a distância em nós

e faça uno os corações.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Nosso Chão

Este chão que pisamos é ao certo o palco denso de uma tradição que não tem começo. Não se sabe ao certo quando e como toda nossa narrativa principiou. O que sabemos bem é o que vemos hoje: moluscos, bronze de plástico, devassos no púlpito, broncos lecionam, avante com os peculatos, pois não há espaço para trancafiar tantos rapineiros. A atitude de hoje é a exaltação do sonho de ontem e os devaneios com a utopia do amanhã.

Este chão já viu a corrida da anta seguida pelo índio, já foi rasgado pela mata do pau vermelho, já viu o facão dos ratoneiros sem pátria, foi golpeado pela quedas das árvores, foi regado por garapa, sentiu o aroma do café, levou merda de vaca na cara, bebeu leite, chorume e misturas fabris. Mas ele viu mais e verá! Mesmo que não estejamos mais por aqui ele verá o que faremos da Terra e como tramaremos o nosso fim.

Talvez neste tempo eminente ele já não reaja à reposição hormonal e será estéril, sem condição de dar a vida... Então a vida dormirá sobre ele e este chão, morto por nós, e reposto por nossa morte ressuscitará e tornará a produzir o fruto cobiçando para que a natureza não se engane e que novos índios venham novamente correr atrás das púberes antas.

Rafael Paixão

Crônica Registrada

Longo

Foi um descuido meu

aquele olhar denotado

que te fez aceitar

uma aventura breve.


Começou assim e

terminou assado.

Casual, informal, carnal.


Foi um lance que

não sei porque

esticou-se, prolongou-se e durou

mais que devia.


O tempo fez aconchego

e em meio ao deleite

houve uma bucólica miopia.


Rafael Paixão

Poema Registrado

Foi deveras medieval

Que o sentinela baixe a ponte!

E o lanceiro envie as setas...

Foi assim comigo!

Ao ver o portão aberto

cri num coração anfitrião

que ordenou uma sentença

injusta: os dardos me tirassem

a esperança sem pena!


Rafael Paixão

Poema Registrado

Ode à morte

Fujam cães! Afastem-se rosas fubanas...

Hoje hei de me remir do ontem

e não permitirei que uns e quanto

menos as outras lambam minha boca.


Minha redenção vem de dentro,

eu a escolho e pratico!

Não voltarei ao álcool e ao perfume.

Quero outra vida que não tenho.

Uma vida alheia que não encontro,

não sonhei, não procuro. Não!


Chega de boemia e colo farto!

Quero me encaminhar à retidão

e assim fazer planos eternos!

A vazão desta minha vida é a morte...


Rafael Paixão

Poema Registrado

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Pronomial

Designe alguém para amar.

Faça o bem para outrem.

Compartilhe algo.

O mundo é de todos!

A decisão é de muitos!

Há poder para alguns!

A bondade enlaça poucos!

Não há quietude para ninguém...

Rafael Paixão

Poema registrado

Marcas de minha vida

Minha tatuagem se fez sem sangue.

Porém houve em mim um padecimento

Que nasceu em meio às sombras.

A árvore do desprezo cresceu em nosso quintal,

Foi a minha vista que ela avolumou-se

E sem perceber roubou-me o valor que tinha.

Deixei de ser caro para o teu viver.

Tornei-me um estranho para aquela que amo!

Você se amedronta! Tem medo de nós...

Isso só aconteceu porque houve sombras.

Não tive forças para cortá-la. Que angústia!

Que a marca que ficou em mim me recorde

A necessidade que tenho do teu amor

E a vontade de mostrar-lhe meu estigma.

Rafael Paixão

Poema registrado

Moldes e formas

Como serei do jeito que você quer? É desumano!

Nunca! Não é possível, pois tenho que ser o que sou,

ou pelo menos ser aquele no qual vou transformando-me.

É comum que sucessão dos dias nos retoque, porém

o tempo, que um dia foi senhor, não nos molda.

Não serei molde de ninguém. Nem daquela que amo!

Rafael Paixão

Poema registrado

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Canção

Em um dia de chuva fina
eu peguei o meu violão
e ele me ensinou uma
canção que falava de ti.

Parecia mui claro
que ao me falar de amor
ele em meu colo fazia
o que um dia fizeste também.

Ó grande e malfadada
descoberta a minha!
Aprender a brincar coa'música
recortando e colando palavras.

Estes doces poemas cantados
me fazem sofrer outra vez
a dor daquele dia cinza
quando partiste de mim.

Ai. É a minha dor!
Saudade é um tesouro...
Mas eu fico com o violão,
o coração e a canção.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Idas e retornos

Com a emoção da viagem
vem o prazer de descobrir
novos e antigos recantos
nos quais me encontro.

Com os novos aprendo
a maravilha da vida:
ela desabrocha sempre
e se refaz a cada tempo.

Com os velhos eu concluo
que mesmo perante o marasmo
do tempo existe sentido.
A memória que mata a saudade.

Um novo velho de longe,
recém chegado aos sessenta,
me disse num dia que
alegria tem aquele que viu
a Terra girar, o fogo dançar
e o amor destruir.

Rafael Paixão
Poema Registrado

A paisagem

Eu via uma paisagem
com uma montanha
e graciosos sítios
no entorno do seu sopé.

Havia um céu azul
que refletia em tudo
a sua melancolia.

Esta paisagem bela
me enchia os olhos
e eles transbordavam
regando o rosto.

A montanha por sua vez,
via o olhar distante
com brilho de esperança.

Rafael Paixão
Poema Registrado

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Minha Loucura

Donde vem a minha loucura? Como fiquei assim?
Sei que é isto que queres saber!
Mas para responder-te preciso de um auxílio
da linha do tempo que nos levará a outro dia.

Vivia eu sem perceber minha própria presença
até que um dia pela primeira vez encontrei um espelho.
Nele eu olhei e vi alguém ali... Nunca o vira antes!
Mas por meio de uma pueril geometria compreendi.

Ali naquele pedaço de vidro estava eu!
Não poderia mais mentir de mim para mim...
Exclamei então sem ar: Encontrei-me!
Eis diante de mim a imagem do meu eu!

Saí para a rua em festa! Corria e saltava!
Encontrei-me! Sei quem sou!
Gritava o neo-revelado eu dentre os passantes.
Uns riam de mim, alguns gostavam e outros fugiam.

Com minha alegria indescritível continuei a correr
até que jovens aprendizes em coro uníssono
assim que viram o meu contentamento gritaram:
Um louco! Vejam o louco!

Mas o vento já havia me despenteado o cabelo,
o sol havia rosado a minha face,
e eu era diferente de todos demais citadinos...
Prenderam-me e seguiram maltratos.

Ali na prisão sem paredes quase enlouqueci verdadeiramente,
Mas guardando a liberdade a antiga loucura, minha loucura
encarei a solidão como liberdade e os dias como esperança.
Foi assim que me tornei louco. Louco pela vida. Tornei-me eu.

A desigualdade aparente com o tempo amainou-se
e depois de conquistar a confiança dos ditos normais
disseram que eu estava livre e poderia partir.
Era tarde... Eu me apaixonara pelo meu louco!!!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Prisão ao perfume

Olhei de um lado e depois
espiei para o outro...
Já não me controlava
e minhas idéias eram soltas.

Parecia tudo escuro e sem medo.
Pulei o muro baixo e caminhei
naquela grama verde
que me levava à rosa.

Eu estava a voar... Tonto!
Era o cheiro daquela
que estava diante de mim.

Roubei-a pelo seu perfume...
Eu a coloquei numa caixa!
Na verdade queria aprisionar-te!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Minha alegria

Por aqui o ar anda parado,
perdeu a vontade de correr
e não balança mais tuas tranças!
Como tudo ficou triste.

Então eu te peço amor meu:
Rodopia! Abre os braços e roda.
Assim as tuas tranças remoinham
e com o balanço trazem meu sorriso.

Que bom é poder ver você por mim
que roda qual o meu pião de outrora.
Você se dá sem medo da queda!
E é por isso que te amo moça...

Ainda lembro de tuas cirandas
que me antecipavam teu amor!
Seu vestido branco levantado e
eu admirado olhando teu quadril.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Soneto do meu Sertão

Empunharei a minha rabeca
o com dó eu hei de dizê
que de carqué hora em diante
eu serei cego pelo sol.

Num vim de lá por causa de si!
O que mi'ncanta é a luz
que tem consigo um calorinho
que acarinha a pele.

Cê nunca há de se minha ré!
Num é tua curpa o meu desejo
de vorta acá pra cantá.

Nesse sertão o povo fá'zueira
e dibaxo do lumieiro
escuta minh'alma em canção.

Rafael Paixão
Poema Registrado

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O meu amor

O meu amor tem vida
de natureza exótica.
Vem nele uma porção
de sagrado e de calor.

Um sentimento nu
de prazer sem culpa.
Tentação de compor
com cores puras.

Tem fascínio universal
por todos os gostos.
O meu amor oferta
um pouco mim com ele.

Quem aceita o meu amor
tem que prever consigo
a presença íntima
do meu eu fascinado.

Ei de estar cativado
por aquela que tiver
no coração o meu amor.
Tenha-me! Ama-me!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Vinho e lábios

Ainda sinto o aroma do vinho em tua boca.
Me inebria a proximidade dos nossos rostos.
O perfume do bouquet do vinho da tua boca
tem insanidade, perigo e inconveniência.

Como é insensata a embriaguez dos sentidos
e o convite que me faz esta fragância do beijo.
O meu olfato não pode mais decifrar teu vinho
e então eu quero sentir o teu gosto e teu corpo.

Provei o teu gosto e te senti entre meus dentes,
minhas pernas tremeram com teu teor macio
e senti como é forte o calor do teu abraço.
Com aquele beijo o teu vinho transbordou em mim.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Barraco Escuro

Era pagável em qualquer agência bancária,
mas acontece que passou o vencimento.
Meus filhos pequenos ficaram em casa
e não têm o que colocar na panela.
Este é o motivo da falta do gás de cozinha.
Gás pra quê? Mas o que faremos sem luz?
Ela sim tem serventia pra quem tem fome!

Precisamos dela... Onde posso pagar isso?
"Deixe pra lá mulher! Compre comida!"
Não posso... Diz o que meus filhos farão?
Sem a luz seu moço, não dá! Eu não poderei
manda-los apagar o interruptor e virar pro canto.
Moço, é melhor dormir pra esquecer a fome!
E ao acordarem que comecem a dormir de novo.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Terna infância que nos falta

meninos se despojaram na lama
e com uma bagatela de combinações
se fizeram donos dum mundo rude
em sua aparência rubra e disforme
e perfeitamente equitativo e político
de leis simples e sem registro
onde havia concórdia verdadeira
e batalhas só mesmo de brincadeira
como em tudo aquilo que é obra
das mãos encardidas dos meninos

Rafael Paixão
Poema Registrado

Para dar condição

Você pode ajudar!
Agregue valor nestas
obras terrenas.

Com devotamento,
a cada dia comprido,
forme o novo.

Se não puder
formar de novo,
então mude.

Talvez mudando
haja a chance
de acautelar.

Faça
sua
parte!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Pássaro de inverno

Lembrei-me daquela languida manhã de terça-feira.
Sei que era um mês de maio tão melancólico e raro,
contudo as palavras tinham perdido o seu efeito
e o frio inverno se aproximou fazendo manchetes.

As folhas da alameda caíram fazendos desenhos,
o andarilho parou o coração e o caminho,
a neve branqueou o pampa e as mentes acinzentadas.
E por fim acabou-se...

Com letras garrafais houve aquela frase amarga
em que você dizia que não haveria mais poesia em nós.
O cansaço abateu em meu verso e cessou. Era sua a razão?
Você se virou, foi caminhando e cresceu um abismo.

Como um pássaro novo no ninho eu olhei para baixo
e tive fé na força trêmula das minhas asas mal formadas.
Saltei e com desespero da puberdade aticei minhas plumas
que só conseguiram levar-me as nuvens feitas de couve-flor.

Rafael Paixão
Poema Registrado

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Medo, noite e por fim a aurora

Descança o medo que há em mim...
Esquece-me já que é lua nova!
Escura é a noite em mim...
Descança! Não me acorde!
É melhor estar entorpecido!

Um dia haverá lua cheia
e esta noite se fará clara.
Só então poderá haver aurora,
pois com a lua no céu
ei de saber onde nascerá o sol.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Com lápis-de-cor

Eu, que me chamei poeta, conheci uma flor azul.
Inicialmente não vi nela valor, de tão sem graça!
Mas de tanto olhar eu vi que ela era singular.
Então nós fitamo-nos no ar em melodia e
nos apaixonamos... Foi assim que me fiz mel!

Eu me fiz resultado dela... Mas havia a abelha!
Ela machucava a minha flor pra poder me existir.
Como foi difícil tomar a decisão de poupa-la...
Num beijo meu eu disse que ia deixar de ser
e ela ia ter de mim só a lembrança da doçura.

Não chores minha flor! Não busque em ti razões!
Você foi a origem de minha essência e
eu não poderia lhe ver sofrer por mim...
Sobe na roda gigante da vida, põe uma blusa de lã,
sorria, sinta um abraço do sol e sinta-me.

Guarda-me contigo... Esconde-me em ti...
Em num gesto involuntário suspira e me pinta,
usa a caixa de lápis-de-cor que te dei ontem.
O mel não se faz sem flor... Sem sua flor!
Já a flor pode ser faceira mesmo que não haja mel.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Que tenha mais confete e serpentina, bola e rede, abóbora e mandioca! Um novo modelo para o antigo pão e circo...

Em volta duma mesa velhos e moços lebram o que já foi e a verdade aborrece. Sabe-se que quem lembra já viu ou ouviu dizer aquilo que foi, ou seja, é testemunha do ontem e de sua falácias, pois aquelas imagens são forjadas... Nada foi como contam! Não houve tanto brilho e brancura. Havia fome, dor, pobreza e saudade.
Os velhos e os moços de ontem e de hoje lembram de tudo o que passou mas não entendem. Não entedem a colônia que se fez por ordem e para o progresso de outros, os navios negreiros comandados por mulatos, as revoltas abafadas pela força da coroa e a morte do jovem inconfidente que virou herói porque não teve tempo pra fugir. É a única indepêndencia de pai para filho! Tudo é objeto para uma memória que faz embebida em cachaça, samba e futebol.
Agora a mesa, aquela mesa, já é tamborim e cadencia a canção na qual a mãe gentil embala os seus filhos e lhe conta histórias, ou melhor, contos! São contos de uma terra infante que é de toda cor, raça, canto, conto, sabor e aroma.
Enfim, a lembrança do que já foi, ou dizem que foi, corre pelas veias de gente de todas as idades e espalha a doce utopia: um dia houve um berço esplêndido!

Rafael Paixão
Crônica Registrada

Sobre meninos e drogas...

O lustre está cheio de insetos.
Todos eles morreram buscando luz.
Todavia a encontraram junto a morte,
mas outros ainda rondam o lustre...

Rafael Paixão
Poema Registrado

Nomenclatura

Encontrei uma razão
e sei que ela é imprópria.
Isso só pode levar-me
a algo maior que um!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Lógica

Caminhar implica ação,
agir dispende vontade,
querer vem do desejo
e desejar é humano.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Cancioneiro da boa mãe

Ai Deus! Valei-me!
Portugal se mudou-se.
O Tejo não está mais lá!
Foi levado também.

Não há mais nada trás-dos-montes
e em cima da serra só uma estrela.
Quem pensou nisso tudo?
Alguém requereu a sua herança?

Pobres andorinhas sem praças.
Bem, os pastéis irão pra Belém.
Haverão tantas gemas sem destino!

Se mudou-se... Nudou-se delas!
Ficou roto aos olhos dos outros...
Donde estás? Qual é teu lugar?

Agora, esfacelado, tem um pedaço dado
pra cada canto do mundo. Ai Deus!
Ó Reino Sacro! Império Tropical!
Tu foste global! Transcultural...

Não terão mais canções d'amor,
pois o acordeão rasgou o fole.
Triste será o fardo do teu fado...
Será absorto por tambores!

Ai Deus! Valei-me! Donde estás?
Cadê os bocados continentais?
Até o Açores partiu!

E da Madeira, ó paraíso,
não me sobrou nem o vinho...
Atirarei os calix ao mar.

Douro tu banharás a África?
Ai Minho... Não chores!
O Guadiana desertou e
voltou para a Espanha.

Ai Ria de Aveiro que dor a minha!
Não irei mais comer nem
uma vez, com os pés no Vouga
o teu legítimo tucunaré.

Portugal se mudou-se!
Na Aldeia espalhou-se
e se ditribuiu. Que lindo
ó puta que nos pariu!

Rafael Paixão
Poema Registrado

O que eu escrevo?

Quero escrever!
Não sei o que...
O que sinto?
Algo que penso?
Como o mundo é insano!
Agora sou um louco.
Quero fazer tudo!
Mas onde?
Aqui! Aqui mesmo...
Perdi a coragem;
virei um covarde.
Tenho medo!
De tudo...
Onde está meu pai?
Não veio...
Sou um órfão.
Agora só imagino lágrimas...
Me estendi!
Eu passei dos limites!
Sou agora um censurador.
Não quero que publique!
Pare de ler este texto!
O que é isso?
Sou rebelde!
Faço amor.
Me droguei...
E agora?
Borboletas...
Cachoeiras!
Florestas.
Flores...
Uma falsa paz!
Me transformei!
Quero entender.
Como?
Psicólogo!
Mas não entendo.
Sou aluno...
O que?
Entendi!
Escrevo de tudo.
Tá certo fessor?
Valeu!
Opa, cresci de novo...
Que revolta!
Adolesci!
O que eu vou ser?
Quem eu vou ser?
Ser!
Eu quero ser!
Com tudo que escrevo.
Pai.
Mãe!
Filho...
Poeta.
Boêmio...
Garoto!
Menininho...
Amante.
Amor!
Que eu seja...
Seja tudo!

Rafael Paixão
Poema Registrado

Escondimento

No balanço das folhas verdes
está escondido o vento.
Com o ondular do lago azul
tem oculto um corimbatá maroto.

Em pintas coloridas da vegetação
vive discreta a meiga joaninha.
Permeado aos galhos emaranhados
ergue os olhos o louva-deus.

Como nos é importante cada um deles,
mesmo que seja desapercebida
sua passagem pelas nossas vidas.

Uma cor alegre, um salto que culmina
em um mergulho que inveja o desenhista.
O cabelo afagado e a pele arrepiada.

Quem sou eu? A asa da joaninha?
Ou sou as mãos do louva-deus?
Estou perturbando a tranqüilidade do lago?
Penteio os espessos cabelos dourados?
Não importa... Sei que sou algo!
Talvez alguém que pensa.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Uma vida

O ser vivo
Nasce, cresce, reproduz e morre.
Que infeliz a vida:
acaba em morte.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Vira-Gira

O mundo vira!
O bêbado gira...
Beberei!
O mundo há de parar!?

Rafael Paixão
Poema Registrado

A pedra do Drummond

No meio do caminho havia uma pedra!
Que faz aí esta pedra? Quem sois? O que és?
Uma pedra pode me fazer desistir?
Irei deixar meu propósito por tua causa?

Não esperarei a tua partida...
Teu tempo não é o meu!
Sei que não gosto da espera.

Vou contornar-te pedra desconhecida.
Não! Poderão haver outros nesta via.
Acabou a busca por respostas!
Num chute a pedra sumiu. Eis meu caminho!

Não meditarei mais sobre a pedra...
Não quero mais saber sua geologia
quanto menos sua metáfora!

Rafael Paixão
Poema Registrado

No alto da ladeira

Que encanto me trás a ladeira! De cima eu a olho.
Suas pedras irregulares escondem a terra vermelha
e lembram-me que em mim há cascas que escondem
a lágrima, a dor, a saudade, a morte, o erro e mais...

Porém eu entendi que não posso viver sem o meu cascalho.
É uma profecia! Sem ele você não chegará no alto...
Por que eu subi a ladeira e fiquei esperando por você?
Deveria eu ter te buscado e encontrado no largo...

O tempo passou e eu não sei mais descer a ladeira.
Esqueci como descer e você não quer subir...
Sei que você me vê daí onde está, mas não quer!
Então ao menos diga se queres que eu me atire em ti.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Trovas no Vale

Tem som de viola em ponteio.
Oh trovador das bestas estafadas,
que cruza as montanhas e conta,
canta e chora os causos seus.

Que grandioso é o amor caminhante,
guardando a saudade sob o sol e o luar.
Trovador que faz a folia e o regozijo
dos ouvintes ao cantar sua vida.

Lágrimas e apertos estão na fogueira,
os vultos correm aqui e ali em cadência
sincronizada com a dança do fogo
que é embalada pelo sopro do vento.

Que um dia as dobras e o horizonte
destas terras de passagem lhe mostrem
ao menos a silueta formosa de sua inspiração.
Possa o trovador reencontrar seu amor.

Rafael Paixão
Poema Registrado

Caprichos

O que será de mim?
Como se dará a minha existência?
Como são duros os caprichos da vida...
Será que a grandeza do amor vem da tristeza?

Eis que meu coração se indaga sobre a distância...
Tenho que construir a minha estrada,
carregar pedras que um dia levei
e não vês meu suor!

Hoje, em especial hoje, sofri!
Eu encontrei você aqui em mim.
É certo que não a vejo nem sinto mais.

Malditos erros meus que lhe assombram
e que lhe mantem longe de mim.
E até quando estes caprichos?

Rafael Paixão
Poema Registrado